quinta-feira, 24 de julho de 2014

CLASSE DE 1994 (Pt. 2)

20 anos depois, 10 discos que ainda fazem muito barulho – Pt. 2

Pois bem. Vamos à segunda parte da “Classe de 1994”. Alguns camaradas inclusive adivinharam alguns dos álbuns que estão incluídos nessa metade final da lista de discos lançados há 20 anos. Vale lembrar que eu estou destacando apenas os principais álbuns de 94 que este blogueiro possui e não aqueles que tiveram grande importância naquele ano como um todo.Confiram então quais são esses CDs e vejam se estão de acordo.








“Raimundos” – Raimundos
A primeira música que eu ouvi dos Raimundos foi “Selim”. Uma balada acústica bem tranqüila, mas cuja letra era uma baixaria sem tamanho. Com dezesseis anos de idade, achei o máximo. O restante do álbum era um hardcore pra lá de nervoso com pitadas muito originais de forró. Isso mesmo. Forró misturado com guitarras pesadíssimas e um baixão ultra estalado! Não dava pra entender quase nada das letras cantadas na velocidade da luz pelo vocalista Rodolfo Abrantes e isso me intrigava ainda mais e me fazia querer ouvir aquelas músicas várias vezes. Somente alguns anos depois eu acabei comprando o cd e, com o encarte em mãos, decorei praticamente todas as letras. “Raimundos” foi a estreia arrebatadora da banda de Brasília que liderou uma geração riquíssima do rock nacional que ainda duraria até o final da década. Destaque para as faixas “Puteiro em João Pessoa”, “Bê a Bá” e “Nega Jurema”.









 “Da Lama ao Caos” – Chico Science e Nação Zumbi
Foi na novela “Mulheres de Areia” (sim, eu assisti novela um dia) que eu ouvi a música “A Praieira”. Não sabia que estilo musical era aquele. Só sabia que vinha do nordeste por causa do sotaque do vocalista. Um pouco depois acho que vi o clipe de “A Cidade”. Achei igualmente agradável. Mas foi somente uns dois anos depois, quando minha escola participou da gravação do saudoso “Programa Livre”, no SBT, que eu realmente me liguei naquela banda fantástica. Guitarra pesada e tambores de maracatu que ressoavam no fundo do peito. Que som absurdo! “Da Lama ao Caos” foi o segundo cd que eu tive do CSNZ. Isso foi depois de já ter ganho de aniversário o disco seguinte, o também excelente “Aforciberdelia”, e, infelizmente, depois da trágica morte de Chico Science, no início de 1997. Mesmo sem seu eterno líder, a banda continuou espetacular e eu os acompanho até hoje, comprando cada álbum lançado. Outras músicas de destaque são “Da Lama ao Caos” e “Rios, Pontes e Overdrives”.









 “Usuário” – Planet Hemp
Ah...o polêmico Planet Hemp. Hoje em dia não sei se a surpresa seria tão grande, mas vinte anos atrás, foi o maior rebuliço. Clipe censurado, integrantes presos por apologia às drogas, enfim, muito alarde. Mas tinha a música! Esses cariocas faziam um rap de ótima qualidade e misturavam com funk e hardcore. Uma fórmula inspirada nos americanos do Beastie Boys e que conquistou a molecada rapidamente. Não chegou a ser tão popular quanto os Raimundos devido à maior agressividade das letras, mas foi um dos pilares do rock nacional da época. “Usuário” foi o disco de estreia do Planet que ainda lançaria mais dois trabalhos de estúdio e um registro ao vivo. Aliás, tive a chance de ver o show dos caras uma única vez e garanto que foi bom demais! Minhas músicas favoritas do álbum não fogem do óbvio porque de fato são excelentes. “Legalize Já”, “Dig Dig Dig (Hempa)”, “Mantenha o Respeito”, além de “Fazendo Sua Cabeça” e “Não Compre, Plante”.










“Korn” – Korn
Eu só descobri que o Korn existia quando vi o clipe da música “Blind” uns três anos depois que o álbum de estreia dos caras havia sido lançado. Na hora não me empolguei muito porque logo depois da introdução bem porrada entrava um vocal suave, praticamente sussurrante do vocalista Jonathan Davis. Mas aos poucos fui me acostumando com o estilo da banda, o hoje famigerado “new metal”. Já em 98 eu comprei o aclamado álbum “Follow the Leader”, o terceiro da carreira dos californianos. Em seguida comprei o segundo, “Life is Peachy”, e só então achei o auto-intitulado. Talvez não seja o meu preferido da discografia do Korn, mas é um excelente álbum que acabou se tornando influência para inúmeras bandas que surgiriam ainda naquela década e também na seguinte. As faixas que mais me chamam a atenção neste disco, além de “Blind”, são “Faget” e “Shoots and Ladders”.










“The Downward Spiral” – Nine Inch Nails
Esse foi o ultimo álbum lançado em 1994 da minha coleção que eu adquiri. Eu cheguei a ter contato com alguma coisa do Nine Inch Nails na época que comecei a curtir rock, mas nunca havia me interessado muito por aquele som meio estranho que misturava rock e música eletrônica. Em meados de 2004 me deu um instalo. Acabei ouvindo algumas músicas dos caras que pela primeira vez me chamaram a atenção e resolvi comprar o álbum duplo “The Fragile”. Era só isso que faltava. Comecei então a ir atrás de toda a discografia da banda. E não foi fácil. A maioria dos CDs do grupo liderado pelo gênio Trent Reznor tive que comprar lá fora. “The Downward Spiral” foi um desses. Para muitos, é o melhor trabalho do NIN e isso se justifica através de canções fantásticas como “March of Pigs”, “Heresy”, “Reptile”, a balada dramática “Hurt” e claro, a espetacular “Closer”. Um álbum clássico que, quem é fã de rock deve ouvir pelo menos uma vez na vida.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

CLASSE DE 1994

20 anos depois, 10 discos que ainda fazem muito barulho – Pt. 1

 Passada a avalanche da Copa do Mundo, cá estou de volta para mais um post.
Aliás, estou devendo um post sobre este assunto faz tempo. Foi lendo matérias ou mesmo posts em outros blogs por aí afora que me dei conta do assunto tratado à seguir: álbuns que estão completando 20 anos de existência.
Na verdade, o ano de 1994 foi muito emblemático pra mim no que diz respeito a música. Foi em 1993 que parei para ouvir discos de estilos musicais que até então nem passavam pela minha cabeça quanto menos chegar a aprecia-los ou mesmo saber da existência. Estou falando de rock pesado e rap. Esses universos eram praticamente desconhecidos por mim.
Ainda em 93 gravei umas fitas cassete para ouvir na minha casa bandas como Metallica, Pantera, Nirvana, Viper, Pearl Jam, Motorhead e por aí vai. Mas foi em 1994 que ganhei meu primeiro CD. A partir daí não parei mais. No mesmo ano adquiri CDs que haviam sido lançados recentemente, mas com o passar do tempo, fui comprando/ganhando outros tantos lançados também em 94.
Mas agora, 20 anos depois, como eu disse no início deste texto, é que me toquei na quantidade de ótimos discos que chegaram às lojas (no tempo que isso ainda era uma grande novidade) naquele períodos. Discos que eu ouço até hoje praticamente com o mesmo prazer que tinha quando os ouvi pela primeira vez.
Resolvi então pinçar da minha humilde coleção, todos os CDs lançados em 1994. De um total de quatorze álbuns, escolhi os dez mais importantes e que serão listados e brevemente comentados em duas partes. Confira os primeiros cinco à seguir.





“Far Beyond Driven” – Pantera            
Se não me engano, foi minha irmã quem me deu este disco de presente de aniversário. Foi ainda em 94, meses depois de ter ganho meu primeiro cd, o espetacular “Vulgar Display of Power” (1992), também foi do Pantera. “Far Beyond...” me deixou de cara. Seu antecessor já era uma pedrada sonora, então achei que não fosse possível que a banda lançasse um trabalho ainda mais agressivo. Nada disso! “Far Beyond Driven” contém faixas extremamente pesadas. O ritmo só diminui mesmo na última faixa, um cover de “Planet Caravan” do Black Sabbath. De resto, só porradaria. “Strenght Beyond Strenght”, “Becoming”, “Five Minutes Alone”, “Slaughtered”, “Use My Third Arm” e a minha favorita de toda a discografia dessa que é minha banda favorita, “I’m Broken”.








“MTV Unplugged in New York” - Nirvana
Este álbum também foi adquirido no ano do seu lançamento. Mais precisamente, no supermercado Carrefour (bons tempos...). A essa altura eu já era fanático pelo Nirvana e ainda estava meio deprê com a morte de Kurt Cobain, cerca de sete meses antes do “Unplugged” chegar às lojas. Como na época não existia internet por aqui, eu não tinha noção do que se tratava este disco. Achei que fosse simplesmente um álbum ao vivo, recheado das canções sujas e toscas que eu tanto gostava. Na verdade era a gravação de um show acústico que incluía poucos hits da banda e várias versões de artistas admirados por Kurt. Demorou um pouco para eu assimilar a proposta, mas hoje eu o vejo como o melhor acústico já feito. Também é especial por ser o primeiro CD do Nirvana que eu tive, embora não seja o meu preferido deles. Destaque para as faixas “The Man Who Sold the World” (David Bowie), “Lake of Fire” (Meat Puppets) e “Where Did You Sleep Last Night” (Lead Belly).







“Dookie” - Green Day
Este álbum teve um papel fundamental na minha formação como fã de música. Afinal, foi através dele que eu descobri o punk rock. Quando vi o clipe da música “Basket Case”, na MTV, não tinha noção que aquilo era punk.Tudo bem que na verdade era pop punk e que eu viria a descobrir a verdadeira raiz do estilo anos depois, mas foi ali que as portas se abriram. No ano seguinte eu compraria o cd da outra banda que descobri simultaneamente ao Green Day, “Smash”, do The Offspring. “Dookie” até hoje soa atual pra mim. Eu aprendi a tocar guitarra com músicas como “She”, “Longview” e “When I Come Around”. Os últimos trabalhos do grupo não me agradaram. Não tem mais a energia de “Dookie” ou do seu sucessor, “Insomniac”. Ali sim está o Green Day de verdade e que eu ouço até hoje.








Coletânea – Racionais MCs
Sempre que falo sobre este álbum eu digo que ele mudou minha vida. Até então, eu não ligava muito para rap. Muito menos rap nacional. Mas um verdadeiro fenômeno da música brasileira deu as caras ainda em 93 através das músicas “Fim de Semana no Parque” e “Um Homem Na Estrada” do disco “Raio X do Brasil”, lançado apenas em vinil. Duas músicas de quase oito minutos cada tocando no rádio? Isso era sinal de que havia algo especial ali. No ano seguinte saiu uma coletânea contendo as duas faixas e mais outras onze que faziam parte de LPs que o grupo havia gravado no início dos anos 90. Cada uma delas me impactou de forma decisiva. Despertou o orgulho pela minha raça e me fez enxergar o mundo de uma forma diferente de até então.








“Ill Communication” – Beastie Boys
Mais um disco de rap da “classe de 94”. Nessa época a MTV bombava e praticamente todo dia nos mostrava uma novidade. Uma delas era um grupo de rap formado por três caras brancos. Ressalto o fato de serem brancos porque o rap surgiu nos subúrbios das grandes cidades norte-americanas, onde a maioria da população era composta por afro-descendentes. Mas talvez a “graça” estivesse justamente neste fator inesperado. Os caras eram bons demais! O vocal mais rouco de MCA combinava com o vocal esganiçado de Ad Rock. No meio termo havia Mike D. Juntando esses três elementos com bases originais e samples pra lá de criativos você tinha um grupo que lançou em 94 aquele que foi o álbum mais famoso de suas carreiras. Eu e alguns amigos ficamos chapados com sons como “Root Down”, “Sure Shot” e “Sabotage”. Na verdade, acho que estamos chapados até hoje. 

terça-feira, 10 de junho de 2014

FAR FROM ALASKA

A estreia arrebatadora do Far From Alaska  


Não é comum, mas às vezes acontece e é muito bom. Sabe quando você compra um disco? Opa! Quase ninguém mais compra discos, mas enfim. Sabe quando você conhece uma banda nova e fica meio que obcecado por, tipo, 96 por cento das músicas? Normalmente (pelo menos pra mim) quando a gente fica sabendo de uma banda, cantor, cantora, etc, é através de uma única música, talvez umas duas. Daí aos poucos você vai ouvindo o resto do repertório, acostumando e tal. Mas e quando você pira num disco inteiro?

Eu acho que não chega a dez o número de vezes que esse tipo de fenômeno havia ocorrido comigo até então. Posso citar como exemplos o primeiro álbum do Slipknot (auto intitulado), o “Toxicity”, do System of a Down ou, mais recentemente, o “Diamond Eyes”, do Deftones. Mas agora aconteceu de novo. De uma forma um pouco diferente das bandas que eu citei, mas eu diria que a sensação foi a mesma.

É raro hoje em dia você assistir um programa de videoclipes na televisão e, mais raro ainda, você ver um clipe que preste. Numa dessas escassas oportunidades eu vi, meio que sem querer, um clipe gravado em um local que parecia um deserto. A música começava com o vocal de uma garota cantando apenas em cima de breves paletadas, causando aquele clima de suspense, para logo em seguida explodir em um riff muito pesado. Obviamente, assisti o clipe até o final pra ver o nome da música e do artista. Música: “Dino vs. Dino; artista: “Far From Alaska”.


Como é de praxe quando descubro uma novidade musical, anotei o nome da banda para que, na primeira chance que eu tivesse, iniciar uma busca frenética na internet pra saber de onde eram, como eram as outras músicas, se já tinham algum trabalho gravado, tudo. Foi aí que o tal fenômeno obssessivo começou a acontecer. Fui ouvindo música atrás de música dessa banda que vim a descobrir que era brasileira e do Rio Grande do Norte. Fiquei “chapado”!

Formado por Emmily Barreto (vocais), Cris Botarelli (sintetizador e efeitos), Rafael Brasil (guitarra), Lauro Kisch (bateria) e Edu Filgueira (baixo), o Far From Alaska despeja riffs pesados e criativos em cada uma das quinze faixas do seu disco de estreia “Mode Human”. A bateria forte e precisa dá mais peso ainda a um som que me parece ter influências variadas como Refused, Audioslave, QOTSA, Wolfmother e talvez algo de Muse.

Toda essa base instrumental prepara o terreno para a voz de Emmily Barreto brilhar à vontade. Do melódico (que segundo um colega, lembra Adele) ao “sujo” (remetendo a Janis Joplin), o vocal de Emmily é facilmente um dos destaques do FFA.


O debut, “Mode Human”, lançado de forma digital no mês passado, abre com “Thievery”, que começa com um riff que lembra um pouco “Cochise”, do Audioslave (que, por sua vez, muitos dizem que lembra “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin), mas depois se torna absolutamente original, com um arranjo bem dinâmico e um excelente refrão. Ótima abertura para o disco.

A segunda faixa é “Deadman”. Pesada como a anterior e ainda evidencia o ótimo trabalho de efeitos e backing vocal de Cris Botarelli. Logo em seguida vem a já citada “Dino vs. Dino”. Nessa altura você já pode pensar: “puta disco que essa molecada gravou!”. Faixa após faixa, “Mode Human” segue sem perder o ritmo. Algumas músicas pendem para o blues, como nos casos de “Another Round” e “Rolling Dice”. Outras abusam um pouco mais do eletrônico como “About Knives”, “Tiny Eyes” e a vinheta “Mode Human Pt. 1”.  Ainda sobra espaço para uma guitarra meio country, cheia de slide em “Politiks” e um teclado bem anos 60 (The Doors, quem sabe?) na faixa “Mama”.

O mais interessante é que mesmo com essa extensa gama de influências, o álbum é bem coeso. Não soa como uma banda pretensiosa que tenta fazer um disco grandioso para chamar atenção. O trabalho tem uma identidade e, ao mesmo tempo em que as músicas apresentam arranjos intrincados, no fim das contas você pode enxergar um rock and roll direto e objetivo. Muito disso provavelmente se deve a mão certeira do produtor do disco, o guitarrista e vocalista da banda Vespas Mandarinas, Chuck Hypolitho.


Já que “Mode Human” ainda não foi lançado fisicamente de forma oficial (por enquanto a bolachinha pode ser adquirida nos shows do grupo), permaneço na ansiedade de ter em mãos o disco dessa galera potiguar. Vale lembrar que o primeiro registro do FFA, o EP “Stereochrome”, de 2012, só foi disponibilizado através de um hot site da banda. Ou seja, nada físico mesmo até aqui.

Com letras cantadas em inglês, fico imaginando qual deve ser o foco do FFA. O reconhecimento que se pode ter aqui no Brasil com o estilo de som que fazem talvez seja um tanto restrito. Seria muita utopia então dizer que o destino do grupo é rodar o mundo mostrando seu som? Eu diria que não. Afinal de contas, não consigo parar de ouvir esse som. E quando finalmente tiver essa peça arcaica chamada cd aqui em casa, vai demorar pra sair do meu aparelho de som.


PS: O tal “deserto” do clipe de “Dino vs. Dino” era na verdade a região das Dunas do Rosado, em Porto do Mangue, próximo ao municípo Areia Branca, no RN. Complexo de vira-lata é fogo...






quinta-feira, 10 de abril de 2014

LOLLAPALOOZA BRASIL 2014

O incrível Nine Inch Nails e o Lollapalooza 2014



 Finalmente! Eu vi Nine Inch Nails ao vivo! Depois de usar muita força do pensamento e conseguir cancelar o show dos caras aqui em 2008 por estar sem grana para o ingresso, dessa vez não teve erro. Óbvio que isso é uma piada. Aquilo foi uma tremenda sorte mesmo.

A verdade é que o cancelamento do show de Trent Reznor e companhia, seis anos atrás, se deveu a falta de estrutura do local do evento para suportar a parafernália de luzes e efeitos usada nas apresentações do Nine Inch Nails. Outra hipótese que costuma ser levantada quando um show confirmado é cancelado repentinamente é a baixa venda de ingressos. Sou suspeito para falar, mas não creio que esse tenha sido o caso. As apresentações de Santiago e Buenos Aires rolaram normalmente na época e com bom público presente.

Mas o que interessa agora é o que aconteceu de fato. E no último sábado, dia 5 de abril, por volta das oito da noite, subiu no palco Onix do festival Lollapalooza a veterana banda de rock industrial Nine Inch Nails.


No início desta turnê, os shows do grupo sempre se iniciavam com uma pegada  mais eletrônica através da música “Copy of A”, do novo álbum, “Hesitation Marks”, lançado no ano passado. Mas recentemente descobri que houve uma reformulação no setlist e a abertura passou a variar bastante. Por aqui a escolhida foi a instrumental “Pinion”, emendada com a porrada “Wish”, ambas do ótimo EP “Broken” (1990). Ou seja, um início fulminante!

Como era de se esperar, o jogo de luzes no palco, mesmo nao sendo exatamente o mesmo utilizado em shows lá fora, surpreendeu logo de cara. Em outros textos que escrevi sobre essa banda sempre chamei atenção para a experiência audio-visual que um show dos caras proporciona. E quem viu a performance desse sábado pôde comprovar isso. A cada uma das músicas executadas, fossem elas agressivas como “March of Pigs” e “Survivalism” ou mais “climáticas” como “Me I’m Not” e “Beside You in Time”, a sincronia desses elementos era perfeita. O ponto alto desse quesito se deu durante “The Great Destroyer”, do álbum “Year Zero” (1997). Foi uma verdadeira avalanche surreal de sons e luzes que deixou o público num estado misto de perplexidade, empolgação e hipnose. Memorável.

O único deslize desse show, na minha opinião, ocorreu no meio do setlist, quando a banda emendou uma sequência de músicas mais calmas, todas boas, diga-se, mas que deu uma esfriada no ânimo dos fãs ansiosos por petardos que acabaram ficando de fora como “Terrible Lie” ou “1,000.000”.


O peso característico do som do NIN voltou na parte final da apresentação com a execução de “The Hand That Feeds” e a clássica “Head Like a Hole”. Como eu pulei nessa hora! Para encerrar, como de praxe, veio a fantástica “Hurt”, cantada com toda emoção e entrega por parte de Trent Reznor. É admirável ver que ele ainda se sinta assim mesmo a música tendo sido lançada há vinte anos.
  
De qualquer forma, foi um grande show que deixou mais do que clara a competência de cada integrante da banda. Destaque para o baterista monstruoso Ilan Rubin, que esbanjou toda sua técnica e agressividade que casam perfeitamente com as composições do NIN. Já o líder/gênio Trent Reznor, mesmo interagindo poucas vezes com o público (o que não é novidade para quem o conhece) mostrou uma presença de palco incrível e comprovou porque é, facilmente, um dos maiores frontmen do rock dos últimos trinta anos.

Agora, sim! Me sinto aliviado e satisfeito por ter presenciado in loco a performance de um grupo que, com uma pausa aqui e ali, está há 25 anos nos proporcionando música da melhor qualidade. Mais um excelente show para guardar na memória.









O festival:

 O dia não havia começado muito bem em função da dificuldade para adentrar o local do evento. Do lado de fora do autódromo de Interlagos (nova casa do festival, realizado até ano passado no Jockey Clube) me deparei com uma multidão de pessoas subindo e descendo uma longa avenida que margeava o autódromo. Sem ninguém para me dar um informação decente, apelei. Me infiltrei numa fila qualquer que estava andando bem e torci para que meu destino final fosse dentro do festival. Felizmente foi.

Uma vez lá dentro, me assustei com o tamanho do lugar. Já com um mapa em mãos (aí a organização mandou bem), olhei a minha volta e pensei: vai ser um longo dia. 

Ciente das dimensões do local, resolvi adotar uma tática mais conservadora. Não arrisquei perambular muito de um palco pro outro porque a distância era muito grande. Acabei me atendo mesmo aos shows que eu já havia decidido previamente que gostaria de ver.


O primeiro deles, no palco Skol, foi o show solo do vocalista do The Strokes, Julian Casablancas. O que eu pude concluir é que realmente é muito bom quando um membro de uma banda grande tenha um projeto paralelo, solo, ou qualquer coisa que o valha. Digo isso porque é nessas empreitadas que um artista dá vazão a qualquer ideia artística que venha a ter. E é isso que acontece com Julian. Simpático com a galera e acompanhado pela banda de apoio, The Voidz, o cara mandou alguns sons do seu primeiro álbum solo (“Phrazes for the Young”) e também do novo trabalho (ainda sem título) que deve ser lançado este ano. A galera só despertou pra valer mesmo durante a execução de duas músicas do Strokes, Ize of the World e Take it or leave it. No geral, foi um show meio estranho, mas interessante. Não me arrependi de estar ali.

Cerca de uma hora e meia depois do show de Julian, fui dar uma sacada na apresentação da menina prodígio, Lorde. Gostei do que vi. Batidas eletrônicas, teclado e bateria convencional formam a base perfeita para que a neozelandesa de apenas 17 anos possa brilhar com seu ótimo vocal e presença de palco marcante. Só não vi até o final porque teria que percorrer uma enorme distância até chegar no palco onde aconteceria o show do Nine Inch Nails.

Foi nessa hora que passei por um grande perrengue. Uma aglomeração de pessoas, inexplicável para o tamanho do local do festival, se formou no caminho que me levaria até o palco Onix. Depois de muito empurra-empurra, garotinhas histéricas querendo passar a qualquer custo onde não havia espaço nenhum e um singelo banho de cerveja, consegui me ver livre.


Após o show do NIN (devidamente descrito no início deste texto) já não queria mais saber de muvuca. Tinha algo bem melhor pra fazer naquele momento. Preferi relaxar durante todo o show do Muse. Que sábia decisão! Certamente foi um dos pontos mais altos do dia.

Finalizado o último show, era hora de ir embora. Uma rua interditada e informações desencontradas me fizeram andar por cerca de uma hora nas redondezas do autódromo de Interlagos até achar o local onde o ônibus da minha excursão estava estacionado. Uma aventura que definitivamente eu não gostaria de repetir. Conclusão: o próximo Lollapalooza deveria voltar urgentemente para o Jockey Clube!

No dia seguinte, apenas duas bandas me intreressaram. No conforto do meu lar, acompanhei os shows de Soundgarden e New Order. Ambos muito bons! O primeiro, pesado, rock na veia. O outro, rock eletro dos anos 80, divertido, dançante.

Esse foi o meu Lollapalooza 2014. Depois de ter ficado de fora em 2013, fiquei feliz de voltar. Vou guardar ótimas recordações deste festival. Só faço votos que os erros não se repitam em 2015.






terça-feira, 8 de abril de 2014

KURT COBAIN

20 anos sem Kurt Cobain, mas ainda com Nirvana


Incrível como passou rápido. Me lembro que fazia apenas alguns meses que eu havia sido seduzido pelo som do Nirvana. Uma banda de rock sujo, agressivo, mas também melódico, que havia desbancado nada mais nada menos que o cantor Michael Jackson das primeiras posições das paradas de sucesso. Se não me engano, Sergio Chapelin era o apresentador do Jornal Nacional na época e, de passagem pela sala, vi a notícia da morte Kurt Cobain ser anunciada. Pensei comigo: “poxa...mas já?”.

Esse “já” servia para duas coisas: uma era que eu mal havia conhecido a banda. Outra era que um dos músicos mais talentosos dos últimos tempos, apenas aos 27 anos de idade, havia desaparecido para sempre. Mas desde então, minha admiração pela música do Nirvana só cresceu.

Cobain foi um cara que viveu uma vida muito peculiar. Eu li sua biografia - a excelente obra “Mais Pesado Que o Céu”, de Charles R. Cross -, assisti inúmeras reportagens, documentários e vi o quanto ele era um sujeito contrariado, amargurado, que até tentou aproveitar as coisas que ele gostava na sua vida, como a filha e a esposa, mas isso não foi suficiente.


Foi exatamente dessa alma torturada que vieram grandes canções. Verdadeiros hinos do rock exaltados até hoje. Aliás, a grandeza da banda que liderava foi justamente um dos motivos de sua derrocada. Mas é difícil julgar. Cada um sabe dos problemas que tem e o quanto eles podem ser perturbadores para suas vidas.

Vinte anos depois, se serve de consolo, o que ficou mais marcado foi o legado deixado pelo Nirvana. Mesmo breve, a existência do grupo foi fundamental para o que viria ser o rock que conhecemos hoje, tanto musicalmente quanto em termos de atitude e postura a ser adotada por um artista relevante.

É incrível como depois de todo esse tempo eu ainda ouço as canções deste grupo de Seattle com a mesma empolgação de vinte anos atrás. Aliás, demorou para eu perceber que essas músicas envelheceram. Para mim, e felizmente para muitas pessoas, a obra do Nirvana não soa datada. “Smells Like Teen Spirit”, “Rape Me”, “School”, “Aneurysm”, “Sliver”, enfim, a lista é longa. Todas essas músicas ainda mantém a energia da época que foram lançadas.


 Para resumir o que escrevi nesse texto, segue uma breve história: a banda britânica Muse, que se apresentou no festival Lollapalooza, ocorrido na cidade São Paulo, exatamente no dia em que se completavam duas décadas da morte de Kurt Cobain, como não podia deixar de ser, prestou uma homenagem ao músico executando a faixa “Lithium”, do lendário álbum “Nevermind”. Eu estava bem relaxado a essa hora, acompanhando o show de longe. Mas pude ver e ouvir milhares de pessoas, em sua maioria adolescentes, que sequer haviam nascido quando Kurt morreu, cantando o refrão da música em uníssono, como se fosse o maior hit do repertório do próprio Muse. Eu acho que isso explica tudo, não? Não ficarei nem um pouco surpreso se daqui a mais vinte anos essa cena se repetir. Se eu estiver por aqui ainda, “cinquentão” e tudo, certamente vou cantar junto com essa galera.






quinta-feira, 27 de março de 2014

DEFTONES

Mas afinal o que é Deftones?


Em setembro de 1996 meus pais compraram nosso primeiro computador pessoal. Se não me engano, era um 486 (alguém se lembra desse modelo?). Consequentemente veio a oportunidade de termos acesso a então recém descoberta (pelo menos aqui no Brasil) rede mundial de computadores, também conhecida como internet.

Alguns meses depois, já no ano de 1997, eu havia entrado para a faculdade de jornalismo e meu envolvimento com a internet crescia a cada dia. Nada mais natural que eu criasse uma conta de correio eletrônico. Ou seja, meu e-mail. Tudo que eu tinha que fazer era escolher um portal que fornecia esse serviço gratuitamente e pensar em alguma identificação exclusiva para mim, a fim de ter finalmente o meu endereço eletrônico. Ah...os tempos modernos...

A identificação para o meu e-mail tinha que ser algo digno da minha condição na época. Afinal de contas eu era um estudante de jornalismo, totalmente fissurado por rock e rap, enfim, “o descolado”.  Não deu outra, meu e-mail seria deftones@”provedor”.com.br . Ingenuidade da minha parte? Talvez. Mas na época eu não iria imaginar que permaneceria com o mesmo endereço eletrônico até hoje (2014). Sendo assim, não pensei que na hora de fazer cadastro no banco, realizar compras, contratar serviço de TV a cabo, etc, eu teria que falar para uma atendente de telemarketing que meu e-mail era deftones@ alguma coisa.


Para solucionar isso, bastava criar uma nova conta usando algo como fabio78, fabio_gc, sei lá. Mas isso não aconteceu. Continuo com o Deftones. E aí alguns de vocês (não familiarizados com este blog, principalmente) podem me perguntar: que diabos é Deftones?

Pois bem. Como eu disse alguns parágrafos atrás, em 97 eu já era louco por música. Por isso acabei escolhendo um nome de uma banda para identificar meu e-mail! Faz sentido, não? Pelo menos na cabeça de um garoto de 18 anos fazia. Afinal de contas, o Deftones era uma banda nova de rock, mais precisamente de “nu-metal”, que eu acabara de descobrir e que englobava tudo aquilo que eu gostava em termos de música e visual.

Formada na cidade californiana de Sacramento, em 1988, o Deftones inicialmente se caracterizava por composições que mesclavam rock pesado, com guitarras afinadas em tom muito baixo e vocais de rap em várias delas. Essa era a fórmula do chamado “nu-metal” ou “new-metal”. Garotos norte-americanos de classe média que cresceram ouvindo bandas clássicas de rock como Metallica, Kiss e AC-DC , mas que também estavam altamente expostos a artistas de black music como Michael Jackson, Run DMC e N.W.E, por exemplo. Essa geração misturou essas duas influências distintas que deram origem a bandas como Korn, Limp Bizkit e a banda em questão aqui, Deftones.


Era interessante de se ver porque eram caras, em sua maioria brancos, que se vestiam como os caras negros das perfierias das grandes cidades americanas. Muita gente não comprou a ideia. Achavam bizarro demais e musicalmente pobre. Mas muita gente se identificou com aquilo. Inclusive eu. Bandas que tocavam metal misturado com rap e se vestiam de um jeito que eu achava “style”? Lógico que eu ia gostar!

Mas voltando ao Deftones, o grupo formado por Chino Moreno (vocal e guitarra ocasional), Stephen Carpenter (guitarra), Chi Cheng (baixo) e Abe Cunningham (bateria) conseguiria gravar seu primeiro álbum, já por uma grande gravadora, em 1995. “Adrenaline” é um disco bem agressivo. Chino abusa dos berros, rima com destreza e ainda reservava alguns momentos para utilizar passagens vocais melódicas. Algo que ganharia muito mais espaço nas canções do grupo no futuro.  Embora todo o álbum seja de alta qualidade, as faixas de maior destaque são “7 Words”, “Root” e “Engine no 9”.

Dois anos depois (exatamente na época que descobri os caras) o Deftones lançou o cd que os colocaria de vez no mapa das grandes bandas do momento. “Around the Fur” mantinha a agressividade do seu antecessor, mas soava mais polido, mais bem trabalhado. O produtor era o mesmo, Terry Date (Pantera, Soundgarden, Soulfly), mas a cara das músicas tinha mudado um pouco e, creio eu, para melhor. Por isso afirmo categoricamente que, na minha opinião, este é o melhor trabalho dos caras. Músicas como “My Own Summer (Shove It)”, “Be Quiet and Drive (Far Away)” estão presentes até hoje no setlist dos shows do grupo. E ainda “Lotion”, “Head Up” (que conta com a participação de Max Cavalera nos vocais) e a própria faixa título são outros pontos altos desse excelente LP.


Vem então a virada do milênio e com ela as primeiras mudanças mais significativas no som do Deftones. O disco “White Pony” (2000), levou o grupo ao auge comercial de sua carreira. Canções como “Back to School”, lançada na re-edição do álbum (os caras se arrependeram de deixa-la de fora da versão original), e “Feiticeira” tinham a cara dos dois primeiros trabalhos, já “Change”, “Knife Party”, “Digital Bath” e a maravilhosa “Passenger” (com participação de James Maynard Keenan, do Tool) mostravam um lado mais suave dos californianos. A melodia havia chegado pra ficar nas composições do Deftones. E mais. A entrada do DJ Frank Delgado acrescentou ao som do grupo texturas que encorparam e deram um clima todo especial a cada faixa em que se fizeram presente.

Algumas pessoas, inclusive eu, torceram um pouco o nariz para essa desacelerada. Mas a qualidade do disco é inegável. A produção é impecável. Não à toa, a já citada “Change”, alcançou boas posições nas paradas de sucesso nos Estados Unidos. E para coroar o sucesso do álbum, a pesadíssima “Elite” ganhou o prêmio Grammy de melhor performance de Metal em 2001.

O sucessor de “White Pony” viria somente três anos  depois. O auto-intitulado “Deftones” é um trabalho um pouco mais soturno, não só a julgar pela capa - uma caveira cercada por rosas - mas pelo fato de as composições manterem o mesmo padrão do disco anterior, porém com um nível maior de “viagem” em múscias como “Minerva”, “Moana” e “Anniversary of an Uninteresting Event". Ainda assim é um bom disco que traz algumas das minhas faixas favoritas em toda a discografia da banda como “Hexagram” e “Bloody Cape”.


O Deftones seguia relevante, fazendo shows por todo o mundo e muito respeitado pela crítica. Mas o sucesso, vocês sabem, sempre cobra um preço. Entre o “self-titled” e o disco seguinte, os membros do grupo entraram numa espiral de problemas. Chino, se via  nitidamente pelo inchaço do rosto, estava com sérios problemas envolvendo álcool e outras drogas. O relacionamento entre os caras se deteriorou muito por conta disso e o clima para a gravação de “Saturday Night Wrist” não poderia ser pior. E isso se refletiu no resultado final.

O produtor escolhido inicialmente foi Bob Ezrin, famoso por ter trabalhado com o Kiss. Mas não houve uma boa química entre ele e um Chino nada amigável na época. A parceria durou pouco e não rendeu quase nada para o álbum, que teve sua produção finalizada por Shaun Lopez. Na minha opiniao de fã, esse disco, monótono e sem muita inspiração, é o mais fraco dos caras, ainda que conte com boas músicas como “Hole In The Earth”, “Beware” e “Rats! Rats! Rats!”.

Mas tudo iria piorar ainda mais para um dos pioneiros do nu-metal, que a essa altura, já havia virado história no cenário do rock mundial. Em novembro de 2008, na cidade de Santa Clara, o baixista Chi Cheng estava no banco do carona do carro de sua irmã, sem cinto de segurança, quando este colidiu violentamente com outro veículo em um cruzamento. Chi sobreviveu, mas em estado vegetativo. Não falava e nem andava mais.


O acontecimento terrível serviu para os integrantes do Deftones refletirem sobre a condição geral da banda. Na época do acidente de Chi, os caras estavam quase finalizando o álbum que já tinha até um título definido, “Eros”. Mas a decisão foi de não lançá-lo. Não se sentiam confortáveis para tal.  

O que eles decidiram fazer foi aparar todas as arestas. Chino realinhou seu comportamento após alguns anos bem complicados e a banda se manteve unida. Para isso, recrutaram o amigo de longa data Sergio Vega (da banda Quicksand) para substituir Chi Cheng até que este pudesse voltar a tocar. O que jamais aconteceria.

Com uma nova configuração, tanto física quanto mental, o Deftones recomeçou do zero o trabalho de composição de um novo disco. Em 2010, “Diamond Eyes” viu a luz do dia. A volta dos caras não podia ser mais triunfal. Depois de um período pra lá de turbulento, parece que as “estrelas se alinharam” novamente e a banda acertou em cheio com um disco fantástico. Desde a faixa-título, que abre o álbum, passando por “Rocket Skates”, “You’ve Seen the Butcher”, “Sextape” e “Beauty School”, “Diamons Eyes” é um disco que se mostra equilibrado. Músicas pesadas dividem espaço com as baladas que não estão tão viajantes quanto outrora. Também estão lá as melodias, cortesia do vocal inconfundível de Chino Moreno, e as pitadas de elementos eletrônicos, sempre a cargo de Frank Delgado. Obviamente, o álbum recebeu ótimas críticas e figurou em diversas listas dos melhores discos lançados em 2010.


O sucessor de “Diamond Eyes” veio dois anos depois. “Koi No Yokan” (frase japonesa que significa algo como premonição do amor) foi igualmente bem sucedido. Embora seja um pouco mais leve que o anterior, ainda tem a cara do Deftones. Talvez não seja o tipo de disco que te conquiste exatamente na primeira ouvida, mas seu valor é facilmente reconhecido já na segunda ou terceira. Músicas como “Leathers”, “Romantic Dreams” e “Poltergeist” se destacam, mas para mim, a canção que te faz cair o queixo e provoca aquele arrepio na nuca é “Tempest”. Recomendo que seja ouvida no fone de ouvido e em alto volume. Se você for imune aos efeitos que ela causa, sinceramente, não sei de que mundo você veio.

O que eu mais admiro no Deftones em todos esses anos (quase 20!!) é a regularidade. Por mais que um ou dois álbuns estejam um pouco abaixo da média estabelecida pela banda em toda sua carreira, eles sempre se mantiveram fiéis ao seu próprio estilo. Por mais que sejam até hoje rotulados como um dos pioneiros do famigerado nu-metal, esses californianos criaram sua própria fórmula de composição. Variam aqui e ali para não cair na monotonia, mas, ao contrário de seus contemporâneos Korn e Limp Bizkit, nunca se preocuparam em fazer algo espetaculoso ou forçaram uma mudança radical no som para tentar ter mais sucesso ou ser mais relevante. Talvez pelo fato de nunca terem alcançado o status de mega banda, como as citadas alcançaram, nunca precisaram se preocupar em manter essa condição. No melhor estilo “low profile” conquistaram seu espaço, se mantiveram criativos e hoje certamente são mais respeitados e seus trabalhos recebem melhores críticas do que qualquer outra banda de sua geração.


Para minha total satisfação, tive a oportunidade de ver Chino e companhia ao vivo por três vezes. A primeira foi em 2001, no Rock In Rio III. Parecia um sonho que eu achei que jamais se repetiria. Acreditava que uma banda alternativa como essa jamais voltaria a se apresentar por aqui. Mas eu estava enganado. Eles voltaram e eu pude estar presente num show só deles em 2007 e, por fim, no festival Maquinaria, em 2009. Em todas essas vezes senti exatamente a energia que imaginava ao ver shows ou clipes pela TV. Chino enlouquecido no palco e interagindo constantemente com o público. Stephen massacrando nos riffs, paradão, à direita do palco, mas sempre “bangeando” como se não houvesse amanhã. Abe espancando sua bateria com disposição e técnica impressionantes e Sergio Vega, viajandão, rindo e tocando de olhos fechados. Claro que eu também pude ver Chi Cheng ao vivo. Seus dreadlocks gigantes voando pelo palco, backing vocals absurdamente agressivos e o estilo clássico de tocar baixo com os dedos. Nada de palheta. Em decorrência do grave acidente já relatado aqui, o músico viria a falecer em abril de 2013. Saudade eterna.

Então é isso. É por esse texto gigante em que procurei contar a história de uma das bandas que mais marcaram minha vida, que eu continuo sendo deftones@ “provedor”.com.br.  O signicado da palavra “deftones”? Desconhecido. Os próprios integrantes não sabem explicar direito. Dizem que foi a primeira palavra que veio a mente quando perguntaram no início da carreira, qual era o nome da banda. Típico deles.

 Encerro esse post com o trecho da música “Minerva”, como uma espécie de agradecimento: “God bless you all for the song you saved us”.










sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

DE LA TIERRA



De La Tierra: poder latino a serviço do metal



Eu me lembro de já  ter comentado sobre isso em algum post anterior. Em meados dos anos 90 a quase finada MTV era minha principal fonte de descoberta de novas bandas. Nessa época eu já estava vidrado em música e todo o dia assistia o canal, ávido por alguma novidade. Foi nesse período que descobri vários grupos, muitos dos quais sigo até hoje como Machine Head, Slipknot, Biohazard, Deftones, Korn, Limp Bizkit e tantos outros. Um desses “tantos outros” era um grupo de metal argentino chamado A.N.I.M.A.L. Isso mesmo. Uma sigla que significa “Acosados, nuestros indios murieron al lutchar”. Traduzindo: “Molestados, nossos índios morreram lutando”. O vídeo que me fez ter o primeiro contato com os caras foi o da música “Milagro”. Uma paulada com guitarras pesadas, bateria quebrada, refrão contagiante e um vocal muito competente, em espanhol, a cargo de Andrés Gimenez.


A partir de então comecei a ficar de olho nesta banda. Em uma ida à Galeria do Rock, achei  exatamente o cd que tinha a faixa “Milagro”, cujo título era “Poder Latino”. Acertei em cheio. O disco era muito bom. As músicas misturavam metal, punk, rap e tinha até um pequeno espaço para a música folclórica argentina.


Não muito tempo depois, percebi que a MTVnão passava nenhum clipe mais recente do A.N.I.M.A.L.  Também não havia You Tube para eu seguir os passos da banda. Somente em 2011, em viagem a Buenos Aires, no quarto do hotel, assistindo um programa de clipe de um canal porteño qualquer, descobri que o vocalista Andrés Gimenez estava com uma nova banda, chamada D-Mente. Gostei do som e, no dia seguinte, comprei o cd dos caras sem medo de me decepcionar.  O álbum é bom. Segue uma linha de metal mais tradicional que o A.N.I.M.A.L. Não chega a ser tão cativante quanto, mas achei bacana.

 



Pois bem. Mais dois anos se passaram e, acessando o portal especializado em rock whiplash.net para me atualizar sobre as minhas bandas preferidas, tomei conhecimento que um novo supergrupo havia sido formado. Por supergrupo entendam como uma banda formada por músicos já consagrados em outras bandas. Um bom exemplo é o saudoso Audioslave, formado pelo vocalista do Soundgarden, Chris Cornell e pela parte instrumental do Rage Against the Machine, Tom Morello, Timmy C. e Brad Wilk. Temos ainda o Chickenfoot, com integrantes do Van Halen, Red Hot Chili Peppers e mais o guitarrista Joe Satriani.


Mas este supergrupo que encontrei no whiplash me chamou a atenção por contar com Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura. Pensei comigo: “vem coisa pesada por aí”. Dito e feito. Lendo a matéria no site, descobri que o grupo se chamaria De La Tierra e, além de Andreas, seria formado por Alex González (baterista da famosa banda mexicana Maná), Sr. Flavio (baixista da banda argentina de ska Los Fabulosos Cadilacs) e, vejam só. Andrés Gimenez! Sim! O líder do A.N.I.M.A.L. e do D-mente seria o vocalista principal e também guitarrista.


Me empolguei imediatamente e fui ouvir o primeiro single disponibilizado na internet, chamado “Maldita Historia”. Excelente música com influências nítidas de A.N.I.M.A.L. e Sepultura. Em seguida saí caçando entrevistas com os caras pra saber como se reuniram , com qual motivação, etc. Não demorou muito mais tempo e o álbum, auto-intitulado, foi disponibilizado em sua totalidade, em streaming, pela gravadora que distribuiria o trabalho.

Sem saber quando e se o disco sequer seria lançado aqui no Brasil, não pensei duas vezes. Ouvi de ponta a ponta e confirmei. Que discaço! A intro, “D.L.T”, com um dueto de violão acústico e guitarrra, abre caminho para a primeira porrada, “Somos Uno”. Logo de cara percebo que os vocais de Andrés estão mais potentes e agressivos se comparados ao álbum do D-mente. Eu imaginava que o cara, há tantos anos na ativa, já não teria mais a pegada de outrora. Felizmente me enganei redondamente. 

 

A terceira faixa é “Rostros”. Tanto quanto ou mais pesada que a anterior, tem tudo para ser um dos destaques nas apresentações ao vivo. Em seguida vem “San Asesino”. A introdução é uma bateria emulando um samba, mas logo depois é o metal que impera em toda a canção. Porém, um outro detalhe especial vem à tona nesta faixa: Andreas Kisser divide os vocais com Gimenez cantando em português. Excelente idéia que aparece também em outras músicas com o mesmo resultado positivo.  A junção dos vocais nos dois idiomas dá uma cara ainda mais única para o trabalho que segue sem diminuir o ritmo em nenhum momento. “Chaman de Manaus” e “Reducidores de Cabeza” são outras duas faixas que se destacam um pouco mais em relação às outras. Finalmente, “Cosmonauta Quechua”, um thrash metal desgracento, fecha o cd de forma brilhante.  


No geral, os arranjos privilegiam as caracteríticas dos quatro integrantes. Os inconfundíveis solos dissonantes de Andreas se encaixam perfeitamente às boas bases de guitarra compostas por Gimenez. Enquanto que na “cozinha”, Sr. Flavio lança mão de alguns slaps nos momentos certos e Alex González se revela um grande baterista de metal (apesar de fazer parte de uma banda de rock com fortes influências de música latina) e ainda canta em um trecho de “Maldita Historia”. 


Muito interessante observar que todos os membros do De La Tierra contribuíram de forma relevante para as composições do álbum. Seja com a letra ou com a música, todos eles assinam as onze músicas presentes no disco. Aliás, foram eles mesmos os responsáveis tanto pela produção executiva quanto artística do disco.

Para minha enorme satisfação, “De La Tierra”, o cd, foi lançado aqui no Brasil agora em fevereiro. Obviamente, já comprei minha cópia e tenho escutado constantemente junto com outro excepcional disco de um ex-membro do Sepultura. Mas isso é assunto para um post vindouro.


 Sob a efervescência do lançamento mundial do disco, o De La Tierra vai fazer sua estreia ao vivo neste mês de março, abrindo os shows da turnê sul-americana do Metallica. Nada mais apropriado, não? O primeiro deles será na Colômbia (dia 16) e, na sequência se apresentam no Equador (dia 18), Peru (dia 20) e Paraguai (dia 24). Cinco dias depois os caras estarão no México, onde serão uma das atrações do festival Vive Latino, na capital mexicana. Infelizmente, nenhuma data aqui no Brasil foi confirmada até agora.


Pois bem. Há mais de quinze anos reforcei meu gosto por rock cantado em espanhol através da banda A.N.I.M.A.L. Os “hermanos” apenas confirmaram o que eu já havia descoberto através da brutal banda mexico-americana Brujeria, poucos anos antes. E a busca continua. Ano passado, em nova viagem a Buenos Aires, comprei o cd da banda de outro ex-membro do A.N.I.M.A.L., chamada Carajo. E devo continuar nesse caminho. Em uma terra onde o heavy metal permanece muito forte e cujos fãs talvez sejam os mais fiéis ao estilo em todo mundo, nada melhor do que uma banda que reúne o que temos de melhor pra oferecer. Mais do que nunca, é o poder latino a serviço do metal!